terça-feira, 4 de agosto de 2009

Regressão


Porto aguarela Autor: José M. Silva

Vejo em mim
a criança que outrora fui
estou inquieto
não tenho paz
procuro serenidade…
faltam-me as forças.
Olho o rio e digo
tenho que lutar
contra esta corrente energética
que se apodera de mim.
E quanto mais a recuso
mais junto a mim a quero
que quanto mais dolorosa é
mais a quero sentir.
Esta angustia esta ansiedade
este zumbido que de mim sai
como se fosse implodir.
Sou um búzio
de mim sai o som do mar
é relaxante…
é como estivesse já na outra vida
é estranho e inumano
mas só ouço este ruído
que sai das minhas entranhas.

Está uma tarde cinzenta e amena
tal como gosto…
sente-se uma nostalgia no ar
dá-me alguma paz.
Olho a outra margem,
admiro os edifícios seculares
desde a alfandega
até mira-gaia
com tons ocres
que ao Douro dão vida
um rabelo, desliza
nas águas esverdeadas e fugidias.
A estrada está quase deserta
de vez em quando passa um transeunte
ou um carro ocupado por amantes
que se amam nestas paragens.
Vejo tudo o que já vi
procuro caminhos já passados
na minha memoria ainda lembrados…
vejo tudo o que já vivi
mas não vivi tudo o que vejo…



José M. Silva

Em livro «Há copos, garfos inebriados dentro de mim»

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